Eu nunca me esquecerei de você.
Nem daquelas tardes nas quais a peraltice de minha infância carecia e reclamava teus cuidados tão gentis.
As muitas horas que passei ouvindo seus sinceros clamores pra que eu mantivesse os chinelos nos pés. Ou as outras tantas em que sua voz e uma levíssima ameaça de entregar minhas travessuras à mainha, embalavam toda minha molecagem.
““- Bota o casaco, minha filha!" ;” – Tá com fome, meu anjo?” ;” – Desce daí, menina!” – eram frases tão casuais quanto a saudade que hei de manter agora.
Você me ensinou tudo o que um bom coração precisa saber pra alcançar a paz.
A humildade sem submissão, a bondade livre de interesses, a gentileza sem exibicionismo, o amor simples e puro.
Você foi muito mais do que “a vó que cozinhava ovo sem gema pra mim”, ou que fazia o sinal da cruz na minha testa todas as vezes que precisei partir.
Você me acompanhou, amparou e protegeu muito além da delicadeza que eu nem sempre pude perceber e rabiscou algumas das mais importantes linhas desse projeto que vive se aperfeiçoando.
Você foi a bonequinha de louça que conseguia derrubar gigantes com o sorriso mais doce e otimista do mundo.
Que acreditava no bem, pelo fato pueril dele compor a parte mais linda dessa delícia que atendia pelo nome de Zilda.
Vovó, pra os mais íntimos.
Eu chorei um tanto na tarde do dia 15 de outubro de 2009.
A sensação foi a de que um pedaço da minha história estava sendo apagado.
Sensação absurdamente tola.
Você não se apagou; você jamais se apagará.
Enquanto eu viver, algumas das tardes terão aquele pôr-do-sol fascinante e um gostinho dos doces que ficavam escondidos num cantinho da gaveta, só me esperando chegar.
E em tardes assim, vovó, você permanecerá viva.
Em mim, e em tudo o que eu possa fazer.
Eu te amo, minha bonequinha.
Descanse em paz.
sábado, 14 de novembro de 2009
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