terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Desventuras no "Peixe/Índio Barrigudo" (GRS)

06:30

Acorda.

07:15

Sai de casa.
Corre, volta.
Cê esqueceu o celular, louca.

07:30

- Moço, onde eu consigo um táxi por aqui?
- Pergunta a mocinha ali da lanchonete. Ela deve ter o número de algum.

(...)

- Oi, tudo bem? O cara da banca disse que você pode ter o número de algum taxista...
- Ah, tá.

Sorri, anota, entrega.

07:35

Liga.

- Então... eu tô um pouco longe. Perto do...
- Ah, tá bom.Obg.

Outro número.
Caixa postal.
Volta até a banca.

- O senhor sabe onde fica o ponto de táxi?
- Não conseguiu o telefone?

(Ele ainda não havia entendido pela minha expressão facial que eu estava terrivelmente atrasada?)

- Não. O senhor sabe onde fica?
- Segue reto essa avenida, vira a esquerda, encontra a praça, achou.

(A avenida tinha cinco quarteirões.)

Corre, corre, corre, respira.
Corre, corre, corre.
Vai lesma!
Esbarra: ôpa! Desculpa!

(Corra, Gal, corra!)

07:45

Ponto de táxi.
Calma, respira, você já encontrou.

- Oi... Eu.. preciso... esse endereço... cinco minutos... dá?
- Qual é mesmo o nome da rua?

(Ele aparentava a idade do meu avô, usava óculos e tinha a língua levemente presa -ou aquilo era um sotaque quase italiano-, mas disse tudo o que eu queria ouvir.)

- Entra.

Rua, rua, rua.
Sinal fechado.
Reza estranhíssima e recém-criada pra fazer o sinal abrir.
Calor. Muito calor.
Respira, você já está a caminho.
Rua, esquina, vira, sobe ladeira - enooooorme - desce outra rua.
Chega!

- É aqui mesmo?
- ???

(Cara de 'seu-maluco-o-taxista-é-você-eu-nem-moro-aqui-como-posso-ter-certeza?')

Confere o número.
Alívio.

- É aqui sim. Obrigada.
- Nadaaa... Boa sorte.
- Um bom dia pro senhor.

Calor. Muito calor.²
Respira, se ajeita.
Entra.
Senta, conversa, faz a atendente sorrir, preenche formulário, entrega, aguarda.

- Glaúcia.
- Oi. Tudo bem?

Sorrisos. Bom sinal.

- Então... está com tudo aí?
- Aham. Só não tenho a carteira de vacinação. Isso eu não vejo desde que tinha dez anos...

(Sorriso amarelo tentando convencê-la de que era mero detalhe)

- Vamos resolver isso agora.
- ???
- Você vai nesse lugar aqui e vão te dar uma nova e blá blá blá.
- Tá bom.
- Depois volta aqui comigo.
- Ok. Tchau.

Anda.
Calor.
Calor dos diabos!
Desce ladeira.
Sol quente.
Atravessa.

- Ô, seu doido! Tá cego?!?

Desce ladeirinha.
Observa o ladeirão bem na frente torcendo pra que o lugar não fique no alto dele.
Bom... deveria ter criado uma rezinha pra isso também.

Sobe, sobe, sobe.
Cansa, pára, respira.
Sobe, sobe...

- Táqueopariu! Nâo chega, não?

Se informa.
Compra Coca. (Cola)
Encontra.

- Oi. A Cida me mandou... (esperando que uma delas entendesse)
- Ah, sim. Carteira de vacinação? (entenderam)
- Aham.
- Vem cá.

Pede documento.
Escreve.

- São três vacinas.
- ??? EU vou tomar?
- Vai. Ali, ô.
- Tem gotinha?

(Não tinha nenhuma gotinha)

Volta.
Entrega papelada com o braço feito queijo suíco.
Fonoudióloga gentil, médico japa com cara de chato, garota gente boa.
Tudo certo.
Casa.

E começa a confusão.

Na saída tento descobrir como chegar até a rua X usando um atencioso vovô que me indicou uma descida, uma virada à esquerda e um ponto de ônibus que me deixaria em frente (vamos frisar isso: EM FRENTE) ao teatro.
Desço, viro e cadê ponto de ônibus?
Avisto uma banca de jornal.
Sim, porque jornaleiro e taxista sabe até caminho de formiga.
Me aproximo com a cara mais bacana que eu sei fazer e dou-lhe bom dia de criança precoce que apresenta festival de desenhos nas manhãs do SBT.Ele me olhou por cima dos óculos, abaixou o jornal e fez um gesto com a boca que eu ainda tento qualificar entre 'oi, tudo bem?' e 'vá à merda!'.

- O senhor sabe onde fica um ponto de ônibus por aqui onde eu possa pegar algum que me leve até a rua X?
- Aaahh... Aqui não tem, não.
- Mas um cara lá em cima me disse que se eu descesse e virasse a esquerda, encontraria.
- Onde você tava?

(Soou estranho, mas achei melhor responder)

- Eu vim do lugar W.
- Mas o que é que cê tava fazendo lá?
- Pra quê o senhor quer saber?
- Então... só tem ponto de ônibus aqui em cima. Nessa rua até passa um, mas demora. Se você quiser esperar... Ou tá muito cansadinha?

(Esse cara é estranho...)

- Tô cansada. Vô esperar.
- Tô.

E me deu uma cadeira dobrável verde limão pra sentar.
Ok. O velhinho era meio pilhado (falei que nem aborrecente agora...lol), mas estava um calor infernal e ele havia me oferecido cadeira, água e um pouco de sombra.
Não, eu não sou besta.

- O senhor mora aqui há muitos anos?
- Alguns.
- Conhece o bairro M?
- E precisa morar aqui há muitos anos pra conhecer?

(Velho chato!)

- ... (cara de paisagem)
Ele riu.
Ou eu tava numa pu** TPM ou queria mesmo bater nele nesse instante.

- Eu conheço. Vccê pega ônibus tal, desce não sei aonde e lenga, lenga, blá, blá, blá...
- Hã... (O céu tá bonito, né?)
- Mas o quê que cê vai fazer lá?

(Mas quê isso?!? Ele tava treinando pra repórter investigativo?)

- Desculpa?!?
- Cê vai passear lá?
- É... (meio atônita com a invasão do desconhecido)
- Ah... sim.

Chega uma moça na banca. Deve ser filha dele.
Os dois começam a conversar sobre as travessuras de uma criança que havia enfiado arroz no ouvido. Era minha deixa.
Saí da cena do vô.
Fiquei só observando os carros e motoristas que passavam.
Conclusão da tese observativa: existem mais motoristas homens que mulheres em Guarulhos. E eles se distraem mais facilmente. ;)
Pára uma Blazer pra pedir informação (também) ao vô.
Essa eu queria ver!
O vô soltou aquele riso de Monalisa pro sujeito e eu quietinha já imaginado que pergunta ele faria.
Fiquei só imaginando mesmo.
O ônibus chegou.
Um detalhe: quando dei sinal, o motorista parou kms longe de mim. Fui virar pra dar tchauzinho pra Tititi de barba branca e meti a cara no poste.
Conclusão da minha insana mente: o véio era bruxo!

Entra no ônibus e surpresa: o motorista é vidente!

- O senhor passa na rua...
- Passa sim.

Melhor não contrariar.

PS: Guarulhos deve ser um grande circo.

Roda, roda, roda.
Sacode, sacode.
Roda.
Desce.

Desce uma moça comigo e parece estar à procura do mesmo lugar que eu.
Me adianto:

- Oi, você também vai pra rua X?
- Não. Eu tô procurando esse lugar aqui.

Adivinha que lugar era?
O mesmo onde esfolaram meu braço com as agulhas!
Quando eu digo que existem mistérios indecifráveis em Guarulhos... tsc, tsc.

- Ah, eu conheço. É bem ali, ô.

Reparem meu grau de informação.
Praticamente uma nativa, né?
Adaptação é tudo, baby! lol

Segue procurando o bendito emprego do bondoso amigo.
Anda, desce rua, sobe rua, tropeça, desvia.
Calor de fritar ovos na calçada...
Acheeeeeiii!

(Iúpiiiii, vivaaaa, fogos e pirotecnia)

- Ooooiii!!!
- Hey! Me achou! Foi difícil?
- Nada... Moleza!

(Muitos blás, blás, blás depois...)

- Ô: tem uma chave escondida atrás do bebedouro. Você enfia a mão pela janelinha da cozinha, pega e fica à vontade lá.
- Pôxa, fulano... Valeu mesmo!

(Mais blás, blás, blás e tchau)

PS2: Saí de lá quase convencida a respeito d'um possível futuro político na cidade por conta da quantidade de mãos que apertei em 15 minutos.
Enfim...

Anda, pergunta nome de rua e eis que me deparo com o estádio do Flamengo.

(Flamengo, meu time, carioca.)
(Flamengo, meu time, carioca, com uma 'sede' bem ali?!? Praticamente do lado da Av. Paulista?!? - eu disse que sou exagerada - Hein?!?)

Ouve cantada, pergunta nome de rua à cabeleleira parada na porta do salão:

- Segue reto aqui e quando você encontrar um barzinho na esquina, vira pra direita.
- Obg.

Anda, anda, anda.
Cantada. (esse bairro faz um beeem pro ego...)
Anda, anda, anda, anda, anda...

- Essa por** de bar não chega nunca, não?!?

Pensei muuuito alto.
Uma senhorinha me olhou meio torto.

PS3: Por** em São Paulo é tido como um palavrão terrível. Particularmente, acho caral** bem mais estrondoso e feio.

Eu estava cansada de andar, com fome, dor de cabeça por conta do Sol escaldante no meu cucuruto (dá-lhe, vovó!) e desesperadamente louca pra tomar banho.
Dava todos os meus CD's da Britney pela sequência chuveiro-aspirina-pratoGGdecomida-cama.
E God é bom: um mercado!
Yummi, yummi! Batata frita, Coca, chocolate! - eu comecei a malhar, tá?
Não era assim a comida da minha mãe, mas como ela mesma diz: "quem tem fome come até pedra!".
Sensibilize-se aqui, ó: http://blog.controversia.com.br/2008/07/12/para-enganar-a-fome-haitianos-se-alimentam-com-bolachas-de-terra/

Eis que no auge de minha fadiga: encontrei a casa do amigo!!!
Amém de joelhos!

Maaaasss (história comprida sempre tem um mas assim, né?)...
A sabedoria do povão diz que não se deve ir com tanta sede ao pote.
Poizé.
Eu fui.
Sedenta pela sequência acima descrita, enfiei a mão, o braço e toda minha 'estabanadez' pela janelinha da cozinha e derrubei gostoso o molho de chaves!

Gritem comigo: "Nãããããããããoooo!!!"

Paciência.
Não sou de lamúrias.

Olho em volta...
Alguma coisa deve servir pra tentar pegar as chaves do chão.
Hum... balde...vassoura...
Montei meu aparato: encostei o balde (de plático! olha a arte!) na parede e subi com a vassoura empunhada como uma arma!
Acontece que enquanto me sacrificava pra abrir a porta do paraíso, nem percebi que os olhos da vizinha dele me secavam da varanda.
Adivinharam?
Não?

Pois bem!
A muié pensou que eu estava descaradamente assaltando a casa do fulano!
E a criatura começou uma sessão de pigarros daquele tipo 'eu-tô-aqui-viu?', que evolui pra uma tosse de tuberculoso do tipo 'se-você-não-desistir-eu-ligo-pra-polícia!".
Olhei pra ela.
Encarei só pra ver se ela ia sentir medo de mim. (Who's bad?) lol
Ela se intimidou um pouquinho.
Sou coração mole; deu pena.
Abri o jogo.
Expliquei a situação.
Ela desconfiou mas me deu uma colher de chá quando avisei que ligaria pro fulano avisando que eu tinha feito meleca.
De um jeito muito doido acabei foi conquistando a moça e ela resolveu descer pra me ajudar.
E feito.
Estica de cá, puxa dali e pimba! A chave!

Pessoas... eu queira beijar ela!
Chuveiro-aspirina-pratoGGdecomida-cama aqui vou eu!
E God é good!

Tantas horas depois de tudo realizado, chega minha hora de voltar pra casa.
Ligo pro fulano, agradeço, conto a bagunça da chave e depois de ouvir todo o punk melódico do meu dia ele solta:

- Pô! Mas eu não disse que tinha uma cópia embaixo da escada?!?

Fiódaputa.
Agradeço.

Arrumo a bolsa.
Vou-me.
Pego o caminho de volta.
E enquanto observo os desenhos engraçados que as nuvens formam (alguém já viu um Papai Noel deitado numa prancha de surf segurando uma tangerina com uma das mãos? - eu vi!) acredito mesmo que Guarulhos é uma cidade caoticamente divertida, com pessoas gentis, taxistas 1/2 caducos, jornaleiros bruxos, motoristas videntes, coincidências gratificantes e vizinhas observadoras e corajosas.
Acho que vou gostar de viver ali.

The end.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Necessidadezíssima

Quero você.
Quero perto.
Quero agora.

Não nos negue.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O cabelo é bom. O coração, nem sempre.

Eu não gosto de hipocrisia.
Eu não gosto de gente covarde.
Eu não gosto de falta de bom senso.

O que eu faço com espécies da sua laia, hein?
Essas coisas inumanas que rastejam pelos cantos da vida procurando brilho nas estrelas dos outros; que são incapazes de reconhecer o que a tecla SAP da grandeza interna traduz a respeito da dignidade; que precisam (por falta de alternativa inteligente) ser condizentes com o senso comum mais inadequado a fim de se sentirem um pouquinho menos insignificantes.
Você não mete medo.
Nem dó eu sinto.
É só um grande asco.
As paredes limitadas das suas idéias fracas não conseguem sequer conter seu desespero e me permitem enxergar claramente a incapacidade de evolução dessa coisa esquisita na qual o tempo, as oportunidades perdidas, as mágoas ou qualquer outra desculpa que queira experimentar te transformou.
É repugnante perceber que possuir voz serve somente para lhe fazer vibrar as cordas vocais.
Não acredite nem por um decreto que de alguma maneira consegue me atingir.
A razão verdadeira é que eu simpatizo com esse troço chamado justiça.
Ah! Tem mais!
A ilusão é péssima conselheira e como eu sou uma pessoa beeeem bacana faço o favor de relembrar: você NÂO BANCA O MEU SIM pra qualquer tipo de discussão.
Não, não é pretensão minha.
É burrice sua.
Afinal, convenhamos: argumentos sólidos podem ser derrubados, idéias podem ser renovadas e até algumas atitudes indecentes podem ser convertidas; mas pra diarréia cerebral só há um remédio, pessoa: descarga!

Resumo do rock: minha cabeça não é degrau nem pra quem amo. Quiçá pra quem desprezo.