quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Parênteses.

“A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta.”

(VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 7º edição, Ed. Brasiliense, 1993, p.7)



A um primeiro olhar a descrição de Valls sobre ética pode parecer simplória e até divertida por sua forma volúvel, porém, mesmo grandes (e pomposos!) filósofos encontraram-se diante da mesma reação em cadeia que essa explicação provoca.
O conceito atual de ética a determina como conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade.
Mas o que são valores morais?
São iguais em toda parte?
Fazendo parte da definição de ética, podem ser igualados a ela?

Os valores morais são definidos como tendências conforme as tradições e costumes grupais; portanto, levando-se em consideração a infinidade de grupos sociais do planeta, é evidente que não são iguais em toda parte.
E embora definidas etimologicamente como palavras sinônimas, (ética, do grego ethos com seu correlato no latim morale = conduta, ou relativo aos costumes) demonstro aqui suas diferenças:

 Ética é princípio, moral são aspectos de condutas especificas;
 Ética é permanente, moral é temporal;
 Ética é universal, moral é cultural;
 Ética é regra, moral é conduta de regra;
 Ética é teoria, moral é prática.

Moral apenas complementa o conceito de ética, que é muito mais complexo e abrangente.
Aristóteles foi um exímio pensador em sua busca por uma definição mais palpável sobre o tema. Escreveu em sua obra “Ética a Nicômaco” a seguinte explicação:

“A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediana, isto é, a mediana relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta; pois que, enquanto os vícios vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões, a virtude encontra e escolhe o meio-termo.”

(Aristóteles, Ética a Nicômaco, São Paulo, Abril S.A. Cultural, Col. “Os Pensadores”)


Inegável o brilhantismo de tal filósofo ao comparar ética a uma virtude suprema: ao meio-termo que torna capaz a escolha racional.
Daí surge o ponto exato no qual a ética busca amparo na esfera jurídica, pois a racionalização da reflexão comportamental é (ou deveria ser) a base do Direito.
Quando é ética e moral tornam-se antagônicas, sem possibilidade de abstrair de si soluções, a discussão é levada a contexto jurídico, que serve como o mediador artificial das relações.
Esse tipo de situação pode servir de paradigma para exemplificar uma das ramificações da ética: a profissional.
Vejamos: quando uma discussão é levada a campo jurídico para busca de soluções, o mediador deste conflito deverá ser totalmente imparcial quanto ao problema, livrando-se de seus valores morais e mergulhando no código de ética que sua profissão estabelece para conseguir uma conclusão realmente livre de opiniões possíveis de favorecimento a quaisquer das partes envolvidas. A conclusão deve ser racionalizada. Deve possuir a descrita mediania de Aristóteles para um consenso “justo”.
A ética, mui difícil para uma explanação, é fundamental (embora pouco empregada atualmente) para um convívio verdadeiramente inteligente entre tantas formas diferentes de se ver o mundo.
É, pois, uma das formas inquestionáveis de introdução à civilização intencionada.

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